O Inferno de Gil Vicente
Gil Vicente
Quem foi Gil Vicente?
Gil Vicente foi uma das figuras da Literatura Portuguesa, conhecido como o pai do teatro português devido as suas obras (peças teatrais que ele mesmo produzia, interpretava e encenava como ator), ele era um pacote completo e complexo. Este homem dedicou toda sua existência literária ao teatro, dentre as obras que produziu, existe uma trilogia de autos que demonstra a transição da idade média para a idade moderna, à essa transição damos o nome de humanismo, são elas:
O Auto da Barca do Inferno
O Auto da Barca do Purgatório
O Auto da Barca da Glória
Analisaremos aqui o Auto do Inferno.
O Auto da Barca do Inferno
É uma peça que critica condutas de diferentes tipos sociais, Gil nos trás a realidade de diversos habitantes de sua época, mostrando através da comédia a corrupção presente em todas as classes, das mais baixas as mais altas, estas criticas são trazidas através das personagens, almas que caminham a beira de um rio até encontrar barcos que as levariam ao pós vida eterno (purgatório ou glória). Essa peça é muito importante pois além de uma crítica social ela nos mostra a transição do humanismo para o renascentismo, mostrando como o homem estava começando a desenvolver o seu pensamento próprio e se desvinculando da alienação por parte da igreja. Vicente trás uma peça divertida e bem humorada, e enquanto rimos aprendemos sobre o nosso passado, mas também sobre o nosso presente, pois muitas das coisas abordadas na peça inegavelmente estão presentes nos dias de hoje. É sempre importante lembrar como a peça está viva ainda nos dias atuais, e que seu tema não deixou de ser relevante.
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Personagens
- DIABO
O diabo é uma figura debochada e cômica, a representação do "mal" na obra, ele fica em seu bartel (barco) junto ao companheiro. Seu bartel é o primeiro a ser visitado por quase todos os personagens (a exceção são os 4 cavaleiros), o que trás a alusão do quanto o caminho do mal é mais tentador, um detalhe é que a obra não específica quem é o anjo e quem é o diabo no começo dos diálogos, o que implica dizer que até o diabo dizer o destino de seu bartel, as almas não conseguiam distingui-lo de um barqueiro que apenas as guiaria para o além. Todos que vão até o diabo têm seus pecados expostos por ele, de uma maneira satírica e burlesca, ele sempre esta apressado para que as personagens embarquem o quanto antes em seu bartel, pois devido aos pecados que tinham em vida era com ele que iriam, o destino? Purgatório!
- COMPANHEIRO
Ajudante fiel do diabo, ele tem poucas falas mas esta sempre ali ao lado do barqueiro tinhoso, não há muito sobre ele, ele está lá apenas para insinuar que o diabo precisará de ajuda pois muitas almas irão entrar no bartel dos danados.
- ANJO
Uma figura mais recatada, diferente do diabo que é todo entusiasmado, o anjo é sério e de "papo reto" o que significa a seriedade que supostamente são os caminhos do senhor. Gil Vicente nos trás a visão da época, sobre como a religião é algo completamente sério e para poucos, em contraste com os caminhos do diabo. O anjo representava a "verdade absoluta" da Igreja.
- FIDALGO
Um nobre, provavelmente um rei, o próprio diabo o chama de "Dom Henrique", nome do primeiro rei de Portugal. O fidalgo acha que pelas rezas de outras pessoas iria ser salvo, principalmente pela reza de sua amada que segundo ele morreria de amor por ele, o diabo logo aponta que ele estava errado e que na verdade ele era corno! O anjo aponta o desprezo dele pelo povo e a sua falta de humildade, com atitude esnobe, entra em cena com uma calda grande e uma cadeira, o que simboliza o seu ego.
- PAJEM
Entra junto com o Fidalgo, o que pode simbolizar que o único papel do Pajem é seguir seu superior, ele é apenas citado uma vez na peça inteira, carregando a cadeira, sem falar uma única vez.
- ONZENEIRO
Também conhecido como um agiota, o onzeneiro foi tão cruel em vida que o diabo o chama de seu parente. O anjo rapidamente o descarta devido ao seu ego enorme, ele também é escrito como um personagem ambicioso, trazendo um sacolão que simboliza isso, ainda quer voltar para trazer mais dinheiro, mesmo que isso não tenha mais nenhum valor para onde esta indo.
- PARVO (JOANE)
Primeiro personagem introduzido que pode ir para o paraíso, Joane é descrito pelo anjo como um ser que faz travessuras sem maldade. Sua suposta humilde é tanta que o parvo não carrega nada consigo, o que pode também simbolizar o seu desapego pelos bens materiais. Uma das cenas mais icônicas é quando ele xinga o diabo.
- SAPATEIRO
Personagem que pode ser considerado o crente estético, que acha que indo a igreja estará salvo. Traz consigo um monte de sapatos em uma sacola, simbolizando o roubo que ele fazia através da sua profissão. Muito desonesto e malandro, tenta barganhar sua ida para o paraíso, mas sendo rapidamente descartado pelo o anjo pois, suas ações o tornam um pecador.
- FRADE
Personagem extremamente "chato" e ao contrário, ou seja, ele é o oposto do que sei título de Fadre (Padre) representa, chega dançando com uma moça da qual supostamente se relacionou em vida, o frade culpa a moça pelos seus pecados e justifica sua ida ao paraíso pelos terços que rezou e missas que celebrou. É um padre desonesto, que não leva religião a sério, atitude completamente desaprovada na época.
- FLORENÇA
Personagem que não tem falas, mostrando o papel da mulher na época que é apenas seguir o homem. Florença além de ser culpada pelo discurso do padre, é completamente silenciada pelo autor.
- BRIZÍDA VAZ
Uma mulher cínica, era uma ladra em vida e também uma bruxa, trouxe consigo diversas joias valiosas e feitiços. Além disso, ela cuidava de meninas que encontrava e vendia o corpo delas por dinheiro (prostituição), ela usou esse fato de cuidar das meninas para se passar por santinho, mas tanto o anjo quanto o diabo conheciam seus reais pecados, o que no fim a manda para o bartel do diabo.
- JUDEU
Nem o diabo o queria, trazia consigo um bode (símbolo de sacrifício) e dois tostões, o que nos recorda a crença judaica de que devia-se colocar moedas nos olhos do morto para que ele possa pagar sua passagem no barco, e ele realmente tenta pagar o diabo, mas o diabo não aceita leva-lo e ele teve que ir num barco menor acoplado ao bartel do diabo. Detalhe que em nenhum momento ele vai até o anjo, o que indica a intenção de Gil Vicente de mostrar que o judeu não tinha salvação.
- CORREGEDOR E PROCURADOR
São os mais "irritantes" e "sem graça" da peça, se acham superiores por saberem falar a língua da Igreja, o Latim. São muito esnobes e com um alto ego, tentam negociar sua passagem para a glória mas no fim seguem para o Purgatório.
- ENFORCADO
Enganado por palavras alheias que diziam que se ele se confessasse e morresse iria para o céu, com isso em mente, ele se enforca no galho de um limoeiro e só descobre que foi tapiado quando o diabo esfrega na cara dele.
- QUATRO CAVALEIROS
Os únicos que vão direto a barca da Glória, chegam cantando que morreram por Deus, se levarmos em conta o contexto histórico, veremos que se tratam das cruzadas que iam tomar a terra sagrada de volta para os cristãos, Jerusalém. Eles sabiam que o diabo era o diabo e não foram tentados por seu bartel, logo foram bem recebidos pelo anjo.
PALAVRAS CRUZADAS
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