"A ÚLTIMA CRÔNICA" DE FERNANDO SABINO
Fernando Sabino
Acesse aqui para ler "A Ultima Crônica": Link para a crônica.
A crônica "A Última Crônica", fala sobre um dia qualquer da rotina do personagem e narrador, da qual o mesmo parou em um botequim para tomar um cafezinho, quando então presenciou uma cena que marcou seu coração e que o fez afirmar com convicção: “Assim eu queria minha última crônica [...].”
Mas para entender vamos falar um pouco sobre o que é mostrado ao leitor na leitura dessa obra. O narrador entra no botequim, um estabelecimento que comercializa bebidas, cafés, etc., vamos chamar aqui de "barzinho". Nesse barzinho que ficava na Gávea, um bairro do Rio de Janeiro, ele começou a refletir sobre seus escritos, aos quais adiava o momento de começar a escrever, ou seja, ele foi procrastinar um pouco em um barzinho, quem nunca já se viu em um momento assim, não é? Onde nos sentimos estagnados e precisamos de um lugar para espairecer e buscar inspiração. O narrador mesmo afirmou isso ao sair de seus pensamentos e começar a olhar em volta, a procura da realidade mundana, no entanto inspiradora “onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.”
Embora seja uma crônica curta e muito bonita, é inegável o quão crua é a realidade que o autor trás para o leitor. Ao olhar ao redor o narrador se depara com dois adultos e uma criança entrando no estabelecimento, o autor os descreve como "três seres esquivos que compõe a instituição da família, a cédula brasileira", ele também nos fala que esses personagens são negros e pobres. Em uma denúncia velada, Fernando Sabino através do narrador nos trás um questionamento muito importante, ele cita no mínimo três vezes durante a crônica que os personagens estão tentando ao máximo não chamar atenção, o questionamento é inevitável "estaria os personagens com medo da reação do garçom (como citado na obra) ou tentando passar despercebidos por causa da sua cor de pele? Ou seria por conta da sua pobreza? Ou ambos? É um fato inegável na história brasileira que o racismo está em todos os lugares, seria essa uma forma de Sabino denunciar essa parte da nossa história em um intertexto?
Sabino nos mostra uma situação que podemos associar com a charge de Rodrigo Brum (2018):
"Olha, mãe, eu tenho a mesma marquinha de nascença que a senhora". A hostilidade da conjuntura social relacionada aos pretos é indescritível. Como revelado na crônica o momento comedido da família chama atenção. Ora pela simplicidade da ocasião, outra pela excessiva inquietação de um casal de pretos ao compartilhar no espaço de um bar o aniversário de sua filhinha. O que seria tão grave e desagradável ao ponto de emudecer a felicidade de uma comemoração? A resposta está diante dos nossos olhos, o preconceito social e racional. Tristemente, em um país preconceituoso como o Brasil, não há muito o que celebrar, os pais da menininha sabem disso.
A realidade crua narrada por Sabino, é contada nos detalhes, como o fato da mãe estar com medo da reprovação do garçom, com o pai contando o dinheiro antes de fazer o pedido ou no fato de que apenas a criança come o bolo e os pais só olham orgulhosos. Ao retomar a frase do começo ao falar sobre o sorriso do pai para com ele, Sabino nos da o fechamento de um arco completo em sua crônica, nos mostrando que nada é tão inspirador quanto a realidade e que mesmo que esta por sua vez não seja tão agradável sempre irá carregar algo para os olhos atentos.
Triste é saber que essa é uma realidade preconceituosa se repete diariamente, não só no Brasil, mas, em diversos lugares do mundo. Diante disso, podemos afirmar que obtemos diversas obras que retratam problemáticas como essa, e, mostrando a cruel realidade tendo em vista que ao mesmo momento que retrata, tem também o objetivo de fazer com que aja reflexão diante da situação.
"Viver é melhor que sonhar", como enunciou Belchior.
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